Tripeiro: tenho amigos na Catalunha que a referem como uma região de vendidos. Ou seja, afirmam que eles nao querem mesmo a independência, mas apenas querem mais contrapartidas. Ou seja, que os bascos pagariam pela sua independência, enquanto os catalães querem receber ela sua dependência...
Gabriel Almeida: Confesso que não sou defensor da independência dos Bascos. Tendo as regiões espanholas a sua própria autonomia do governo central, creio que têm os alicerces para preservar a sua História, língua, economia, hábitos e tradições.
Undertaker.: Hugo, eu se fosse basco tb nao queria a independência. Mas acho que, se essa for a vontade deles, é legitima. Apresentam todos os sinais que diferenciam nações! E nao é de agora, porque eles sempre foram "um povo" e foram diferentes do resto de Espanha.
Gabriel Almeida: Quanto à sua legitimidade, sem dúvida. Aliás, já se deu independência a tantas nações, muito mais por conveniência e interesses externos do que por outra coisa, que faria todo o sentido (ou mais ainda) consenti-la ao País Basco. Possivelmente, se não tivesse acontecido o 1 de Dezembro de 1640 e hoje fosse Espanhol, com certeza teria maior noção do sentimento basco. Contudo, num mundo extremamente globalizado como o de hoje, em que as políticas são tomadas numa perspectiva de desenvolvimento regional, se fala na federalização da União Europeia, e sendo a Espanha um país democrático e respeitador de tradições, não faz para mim tanto sentido evocar-se a independência como faria se vivessem numa ditadura e se o seu povo fosse maltratado, como aconteceu aquando da ditadura de Franco.
Mas Gabriel, já agora, tira-me uma dúvida acerca deste assunto que, por certo, terás uma noção da realidade espanhola muito mais correcta que a minha. Excluindo o País Basco, pelas razões que apontaste, achas que as regiões do Norte de Espanha, como a Catalunha e a Galiza, reivindicam a independência como uma forma de negociação (como referiste) com Madrid ou mais por considerarem que teriam um nível de vida muito melhor se não tivessem de "sustentar" o Sul de Espanha, mais pobre e atrasado?
Undertaker.: Sim as razões económicas são determinantes... e o orgulho comum a todo o povo espanhol, mas que o faz ainda mais "umbiguista". Repara tb que as "chamas independentistas" estão associadas às linguas "nõ castelhanas" do país. O "Euskera", o Galego, o Catalão e até o Valenciano (pois, os de Valência tb querem independência, alguns). Mas será só um pretexto? Ou talvez uma reacção ao facto de terem vivido um longo periodo (em particular, com o Franco) de "imposição de Madrid e do Castelhano". Creio contudo que nenhum dos casos é tãogenuíno como o caso Basco. E não me refiro a ETA's e afins (muito mal vista pelas pessoas comuns, no País Basco). Refiro-me ao "basco profundo", o velhote na tasca que teve que falar em Euskera às escondidas, que ostenta a bandeira basca com orgulho, que usa a boina mais para marcar uma identidade do que para proteger a moleirinha...
Eu concordo contigo, acho que o mais importante é manter as referências culturais, mas que devem aproveitar os ganhos de escala a outros níveis (económico, politico, militar até, comercial...). Eu nem via com maus olhos uma "Ibéria" como a supostamente apregoada pelo saramago.
Mas é a tal coisa... se os bascos quisessem a independência, acho que teriam todo o direito a ela. Lingua própria e secular, fronteiras rigidamente definidas há muitos séculos, cultura com algumas influencias distinas e fortes marcas regionalistas, autonomia económica...
Eu se fosse o Rei de Espanha, e contra tudo o que "Madrid" defende e aplica neste momento, fazia o referendo perguntando se sim ou não queriam a independência de Espanha. E a seguir, faria uma empenhada campanha pelo "Não"! :)
Gabriel Almeida: Claro. A liberdade é conceder o poder de decisão ao povo, e o referendo parece-me, neste caso, a melhor forma de o fazer. Olha, já somos 2 a não nutrir desagrado pela Ibéria e passaríamos a ser o 2º maior país Europeu, a seguir à Ucrânia (e excluindo a Rússia da lista, que considero um país asiático). Até mesmo a federalização da União Europeia não me desagrada. Tal como está, não anda nem desanda. Se é para ser uma União, então que o seja como deve ser.
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